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Capítulo 7 de 19
1Eu mesmo não passo de um mortal como todos os outros, e descendo do primeiro homem formado da terra. Meu corpo foi formado no seio de minha mãe,
2onde, durante dez meses, no sangue tomou consistência, da semente viril e do prazer ajuntado à união conjugal.*
3Eu também, desde meu nascimento, respirei o ar comum; eu caí, da mesma maneira que todos, sobre a mesma terra, e, como todos, nos mesmos prantos soltei o primeiro grito.
4Envolto em faixas fui criado no meio de assíduos cuidados;
5porque nenhum rei teve outro início na existência;*
6para todos a entrada na vida é a mesma e a partida semelhante.
7Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.
8Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da sabedoria.
9Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama.
10Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue.
11Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas.
12De todos esses bens eu me alegrei, porque é a sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe.
13Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e não escondo a riqueza que ela encerra,
14porque ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para se tornar amigos de Deus, recomendados (a ele) pela educação que ela lhes dá.*
15Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, porque é ele mesmo quem guia a sabedoria e emenda os sábios,
16porque nós estamos nas suas mãos, nós e nossos discursos, toda a nossa inteligência e nossa habilidade;
17foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, quem me fez conhecer a constituição do mundo e as virtudes dos elementos,
18o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mutações das estações,
19os ciclos do ano e as posições dos astros,
20a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes dos espíritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes.
21Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou.
22Há nela, com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo,*
23livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis.
24Mais ágil que todo o movimento é a sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.
25Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela.
26É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de sua bondade.
27Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus,
28porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!
29É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva,
30porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a sabedoria, o mal não prevalece.